segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

D e s a b a f o


Conhece? Conheço sim minha amigona. Nunca vi, nem ouvi mas já comentei em fotos dela. Gente boa até. Não vejo rostos, vejo minha tela do computador a cuspir palavras mudas que vão aparecendo na minha frente me confortando, conversando horas comigo, cômico até, meu melhor amigo é um computador, varia a escrita, variam as conversas e as fotos no canto da tela. Não sei se me tornei surdo ou são as pessoas que não falam mais. A distancia do pensamento encurtou mas a frieza dos teclados nunca vai ter o calor de um abraço. Posso conhecer japoneses, americanos e noruegueses mas nunca vi meu vizinho, não sei o nome, nunca nem ouvi a voz. Difícil se adaptar num mundo onde não temos mais a necessidade de nos encontrar, basta passarmos o dia com as bundas pregadas nas cadeiras escrevendo para outros computadores. Tornamos-nos mudos por opção, muitos só são pessoas na internet, muitos só deixam de ser máquina na frente do computador. Perturba-me esse pensamento de que do jeito que as coisas se desenrolam não teremos mais o calor do outro, mas seus vídeos na webcam. Esse triturador que suga todo seu eu pra ele deixou de ser uma ferramenta e se tornou o principal meio de comunicação. Um dia sem voz todos agüentam, mas um dia sem internet é o fim. E vamos talvez pro fim e também a parte mais hipócrita de todas, pois o meio que tanto me incomoda e me distancia de outros, é o meio pelo qual me expresso agora e não pra outras pessoas só pra outros monitores mudos.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Entre reflexos


Sento  e vejo uma bela paisagem ao fundo, mas ao invés de olhar diretamente para ela, observo-a através de um vidro dessa forma me vejo incluído na paisagem, a sensação de pertencimento é absurda, me deito na rede e continuo observando o espelho, me incluindo no quadro. Ponho-me a imaginar se tudo no mundo não funciona assim , se nós não preferimos sempre fazer parte da obra e nos incluir ao máximo na pintura do mundo. Não nos importa a história, não importa quão bem pintado o quadro é, pois queremos simplesmente fazer parte. Tudo parece se tornar mais interessante pelo mero fato de estarmos presentes. É quase como tentar se abster do mundo inteiro e observá-lo de fora, seria chato e entediante, pois nunca estaríamos presentes. Talvez esse seja todo conceito de deus, na verdade é um modo de nos sentirmos observados, de nos sentirmos parte do mundo sem ter de estar presente em todos os lugares. Levanto da rede e preparo um café forte quase não vejo o fundo do copo, mas nem me interessa o fundo, só presto atenção no meu reflexo no café.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Sem final

Espremo quase tudo, não me aparenta completo, mas idéias nunca são. Volto corrigindo meus muitos erros de português que foram sendo largados enquanto o fluxo de meus pensamentos era despejado. Leio e releio, realmente falta algo mas o algo que falta meu cérebro completa, todas lacunas deixadas por minhas palavras são preenchidas por idéias surgidas a partir da leitura do eu, do meu eu, o eu exposto no texto, aberto e destrinchado em palavras cruas, rápidas e diretas. Vou expandindo as idéias mas quanto mais escrevo mais elas se distanciam do inicio, mas elas se afastam do foco, mas assim funcionam as idéias no fim, são meros pensamentos inacabados e desorganizados pipocando na sua cabeça. Sempre completamos idéias com reflexões, nosso fluxo é filtrado, é pensado e posto no papel. Tentamos mas nunca conseguimos deixá-lo incompleto, temos que completar, que intervir, nossos pensamentos nunca saem direto de nossas cabeças, no longo caminho até nossa boca ou mãos ele vai sendo selecionado. Vou finalizando chegando a conclusão, nessa hora leio mais uma vez tentando puxar todo sentido do texto ao final escatológico que tento dar, todo o desfecho  dessa idéia se resume a essa palavra final que sintetiza o texto inteiro, uma palavra me resumindo, me encurtando em menos de uma frase, talvez a inexperiência de minhas palavras ponha em risco toda a idéia, tornando-a banal e inacabada ou talvez essa timidez de minha escrita faça com que eu me despreocupe de regras que não compreendo, e nessa hora que percebo que de novo me estendi demais e já não falo mais sobre a idéia do começo, não mais sobre o vazio entre palavras mas sobre a escrita inexperiente, outras idéias continuaram vindo e eu não soube a hora de parar, me faltam pontos finais pra por no texto, todos eles parecem vir seguidos de mais pensamentos desprovidos de sentido. Fico pensando se isso tudo faz sentido algum ou se meu cérebro coloca sentido e quando vocês chegarem ao fim desse texto vão estar perdidos e desinteressados, mas nunca irei saber. O sentido que fez pra mim não se perde e não importa quantas vezes eu leia, fico perdido nas lacunas, fico preenchendo sem parar, sempre vai estar incompleto, mas talvez o incompleto não seja algo que falte mas sim algo que depois de acabado me caia na mente, mas já não sei do que estou falando, me perdi nos muitos pontos finais que se passaram, e agora a única coisa na minha cabeça são vários começos mas nenhum final.

Estrangeiro em casa


Tá quase posso até sentir o chão gelado em baixo dos meus pés, já estou com a chaves na mão. Finalmente em casa, tiros os sapatos e os deixo ao lado da porta, guardo eles depois, me gritam, é minha mãe reclamando do tênis na sala, volto e os coloco no lugar certo. Só penso no conforto do meu quarto e da minha cama. Abro a porta do quarto pra ver que nada está onde eu deixei, meu espaço não é mais meu, não consigo mais me identificar nele. Vou pra sala mas tem alguém vendo TV, vou pra rede mas já tem alguém lá também, me gritam de novo , dessa vez são a meias no chão do quarto que dizem estar arrumado, mas arrumado pra quem? Me sinto um estranho nesse lugar, nada parece me agradar aos olhos, enxergo tudo fora de lugar meu quarto não me dá mais conforto, nada parece me pertencer. Corro para o carro, lá é o único lugar em que ninguém mexeu, deito o encosto do banco e tento relaxar, tiro um leve cochilo até que minhas costas começam a doer e acabo por voltar pra casa, não minha mas de outro, minha casa é o carro o único lugar meu, depois disso tudo acabei esquecendo a única coisa que eu queria, um suco gelado.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Pontuação-1

Entre pausas maiores e menores vou marcando o compasso do seu texto. Dou ritmo aos seus pensamentos desorganizados e ponho ordem a ilógica de seus devaneios. Sou algo quase instintivo distribuído entre palavras pra reduzir sua velocidade, sou o freio da sua leitura, evito que você coma o texto e engula palavras, dou tempo para que seus pensamentos se organizem, para que o ar entre nos seus pulmões e você possa continuar a leitura. Deveria ser usada como um sentido seu, mas você não teve olhos pra ver beleza em mim e decidiu me limitar, diminuiu minha importância dessa forma sou restrita a regras molóides de gramática que tentam impedir que eu me espalhe por todo texto. Mas minha ganância me impede de parar, só irei descansar  quando tiver poluído todo seu texto,  não quero mais te ajudar, nem marcar seu ritmo, a musica de suas palavras não me interessa mais, chegara um ponto onde irei separar cada palavra, terão mais de mim do que letras,  daí você irá se arrepender de ter me prendido no mundo sem sentido das regras gramaticais

sábado, 15 de janeiro de 2011

Apartamento vazio

Decidimos ficar juntos só quando ninguém estivesse olhando, decidimos nos relacionar só entre quatro paredes, dessa forma nunca atrapalharíamos nossas amizades com nossos sentimentos, nunca deixaríamos de dar atenção a nossos amigos porque estamos ocupados de mais. Saiamos todos os dias e no fim de um ótimo dia com os amigos nos amávamos intensamente durante toda noite, era um sonho realizado, tudo como você sempre quis a perfeita conciliação entre amizade e amor, não nos víamos tanto, mas nos amávamos mesmo assim, tínhamos menos problemas menos brigas, em compensação conversávamos menos basicamente não morávamos na mesma casa, nos víamos algumas noites em outras ia dormir e você não tinha chegado. Combinamos um jantar em casa no nosso aniversário de namoro, preparei tudo nos mínimos detalhes, estava morrendo de saudades fazia muito tempo que eu não te via, de repente vi que tinha cochilado no sofá e que já eram quatro da manhã e tinha uma mensagem sua no meu celular dizendo "sai com uns amigos não me espere acordado".

20 anos


É assim desde que me lembro, se bem que não sei se me lembro mais, não sei se as memórias são minhas ou se são trechos de filmes que eu já vi. Minha mente se definhou e se despedaçou em cacos com o tempo, não me prendo mais as coisas, o cansaço me tornou alienado, nem pensar mais eu penso. Vejo as coisas passando na minha frente enquanto fumo meu cachimbo e já não lembro mais do que acabei de ver. Talvez nem me importe mas sinceramente não quero pensar se me importo ou não cansa muito. Agora sou passivo, vejo tudo acontecer sem expressar reação alguma prefiro me abster de todas situações e ser um simples observador, assim me poupo o trabalho de me importar, minha vida se resume agora a uma vida em mim, o mundo não me importa mais, não consigo esboçar mera reação aos acontecimentos repedidos do jornal, tudo que gosto assimilo como minha memória e a partir daí sou eu o protagonista dessa história. Dessa forma é muito mais fácil, pois posso não viver minha vida e viver a de outro, viver a de um personagem de cinema, retornar as melhores partes, pausar nas melhores cenas e pular as que me incomodam, mas a melhor parte é quando vem os créditos porque vejo quem me fez, vejo quem me escreveu, e me recordo de que minha vida é um filme.

Três piscadas e uma mordida


Tudo se passa estranho, vejo tudo num blur eterno, tudo em slow motion. Minha cabeça flutua tão alto que já não a enxergo mais, já é um objeto  distante e não identificável. Tudo começa a passar rápido de repente, o ar nunca foi tão fresco na minha pele, sinto cada músculo do meu corpo se mexendo lentamente num dialogo corporal nunca percebido antes. Todos parecem correr na minha frente enquanto vejo tudo passando antes da próxima piscada de olho. Pisco e então abro meu olho e me vejo num lugar diferente, tento não piscar mais mas é inevitável, a cada vez que pisco me sinto dentro de um stop motion, todas as cenas passam como num slide. Levanto e meu corpo está pesado, pesado de mais quase me arrasto no chão, minhas pernas não me sustentam e eu desabo na grama molhada, todos meu sentidos se encolhem, se atrofiam e de repente não sinto mais nada. Luto para acordar mas não é possível, estou caindo num buraco eterno sem ter como levantar, não tenho mãos para agarrar nem cordas pra me resgatar, vejo só as paredes brancas que me acompanham na minha queda infinita. O impacto se aproxima consigo ver o fundo dessa que queda que parece ter durado pra sempre, fecho meus olhos numa tentativa inútil de evitar a queda, abro meus olhos como num susto e única coisa que vejo é uma enorme coxa de frango que estou a devorar.