sábado, 26 de fevereiro de 2011

Escape


As bilateralidades da mente fluem em estados absurdos, enquanto altos demais pra perceber coisas a nossa volta  nos vemos num abismo escuro que rodopia interminadamente. Nos desconectamos de nossas realidades  vivendo saltos imaginativos intermináveis através de toxinas que rapidamente são limpas de nosso organismo, mas o que fica depois é o vazio deixado por ela, a falta do abismo que gira, a falta de todos surtos delirantes que  temos enquanto sob seu efeito. Sentimos falta desse mundo e passamos a alternar, a quase viver em ambos até que num ponto só queremos viver em um deles. Todas impossibilidades proporcionadas pelas toxinas passam a nos fazer falta, nos vemos sós e entediados no nosso mundo normal e patético. A falsa insatisfação nos deixa loucos e somos consumidos por um ódio descontrolado pela realidade, ela é simples de mais e limitada demais para seus padrões, não mais sua realidade, é a realidade dos patéticos conformados que se consolam em suas casas com futilidades televisivas, enquanto você se liberta por substancias que te deixam ser tudo que o mundo não permite, até que num ponto sem limites pra cruzar, sem delírios tudo que te resta é afundar numa depressão isolada até que nos últimos fios de lucidez você se dê conta de que o único que se conformava e se alienava era você.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

lugares que não são brasilia


Arrasto-me com o ar pesado sobre enormes sombras que parecem cobrir o chão inteiro, tantos prédios parecem cobrir o céu. Tudo é preenchido espaços vazios tornam-se raros, o céu se torna raro, o ar escasso e as pessoas muitas, se multiplicam, a cada esquina que você olha. Não há mais o distante, as coisas cresceram tanto que tudo se torna perto, tudo cresceu e você parecesse cada vez mais um nada no meio desse enorme bambuzal de prédios.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Mìope


A rapidez de meus pensamentos  não acompanham minhas vontades, já acabei o suco antes de saber se ele estava bom.  Engulo tudo em goles e mastigadas rápidas mandando toda informação, nem sempre completa, rapidamente para minha cabeça. Dou passos rápidos para lugar nenhum, simplesmente para chegar ao fim de um caminho. Sentidos explodem e se misturam na minha cabeça me deixando cansado de mais pra perceber o mundo a minha volta, melhor sentar, estou tonto, pela primeira vez vejo o mundo girar, pela primeira vez as coisas passam lentamente pela minha cabeça mas estão distorcidas de mais para que eu entenda. Melhor usar óculos afinal é isso que se faz quando sua visão não está boa, mas será que tem óculos para o cérebro?

Primeiro vôo


No deslizar de meus dedos sobre as teclas cresce minha barba espessa e não mais jovial. Dedos nodosos batem decididos em pontos antes duvidosos, porem sua firmeza já diminuirá. Agora busco meu cachimbo com dedos trêmulos e não mais na esperança de lá encontrar respostas, mas de encontrar calma. Meus olhos já não mais tão atentos vêem a aspereza do futuro e não possuem mais o brilho e ansiedade do novo, só o cansaço e ceticismo do velho. Meus pulmões já não cabem mais tanto oxigênio, eles preferem a fumaça do meu bom cigarro de palha, já não preciso respirar tanto. Já não corro mais, exercícios não cabem nas minhas futilidades diárias. Vou ao bar no meu carro e tomo boas doses de whisky  e copos de cerveja entre longas conversas e baforadas de charuto, mas a disposição não é mais a mesma e cedo estou em casa de novo. Sento-me para ler, ponho um jazz ao fundo e acordo com os pássaros cantando e uma luz invadindo minhas pupilas, o livro caído no chão e meu corpo doido afundado na poltrona. Me preparo uma caneca de um forte café e vou para varanda ainda ouvindo o jazz com uma intensidade cada vez maior, o trompete vai dominando o solo enquanto o baixo segura toda a harmonia no fundo.Vejo garotões passando aos berros comentando sobre o show de ontem a noite mas eles passam rápido de mais para que meu ouvido capte mais detalhes. Nenhum som me parece mais tão bonito, tudo me parece meio ácido e nada mais é novo, tudo são cópias diluídas de algo do passado, eu sou uma cópia de velhos do passado, com o mesmo olhar ranzinza e experiente sobrevoando um mundo no qual não mais me encaixo, mas os pássaros continuam bonitos, seus pios continuam a me agradar como sempre, suas belas asas abrindo e fechando. Me pergunto se depois de velho aprendi a voar, dou um ultimo gole no café,  um trago no cigarro, me direciono para o batente e sem refletir muito ou sem querer refletir muito pulo com o jaz em seu ápice ao fundo, para descobrir que depois de tantos anos nem um simples vôo eu aprendi a dar.