quarta-feira, 2 de março de 2011

Banho de chuva


A chuva corre em minha direção, mostrando com seus pingos ácidos a fragilidade do asfalto que encobre campos de vermes rastejantes, que passam dias a lamber pedras e a retirar seus minerais. A chuva corre e apressa passos desesperados pra chegar a lugares vagos, pra chegar a lugares vazios, mas protegidos dos respingos poluídos de nuvens cinzentas que correm pelo céu se desfazendo de nossa sujeira. Corro em direção a chuva, apresso meus passos antes que ela acabe, pra que seus pingos sujos e ácidos limpem do meu corpo, das minhas roupas  todo o achismo ilógico, toda ignorância direcionada e toda a alienação conformada, para que  somente reste  a minha estupidez  pura e ingênua.Tudo corre mas a chuva para, a sujeira não vem de cima vem de baixo, depositamos frustrações e ódios que caem depois sobre nossas cabeças como pensamentos inacabados em forma de gotas, sujamos tudo a nossa volta para depois abrirmos a boca e engolir tudo de volta. Corremos da chuva porque não mais temos tempo para apreciar nossa própria sujeira, nos escondemos em locais secos com sujeiras que maquilam nossos rostos com cabelos falsamente alisados e sorrisos falsamente postos somente para agirmos como vermes ambulantes consumidores que vagam ilogicamente pelos campos modificando tudo a sua volta para disfarçar a própria sujeira.

Um comentário:

  1. poxa, a gente também sente, incredulamente, sentimos,e há beleza nisso também... há beleza na estupidez e na mentira, veja só!
    ( e eu otimista! )

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