segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Primeiro vôo


No deslizar de meus dedos sobre as teclas cresce minha barba espessa e não mais jovial. Dedos nodosos batem decididos em pontos antes duvidosos, porem sua firmeza já diminuirá. Agora busco meu cachimbo com dedos trêmulos e não mais na esperança de lá encontrar respostas, mas de encontrar calma. Meus olhos já não mais tão atentos vêem a aspereza do futuro e não possuem mais o brilho e ansiedade do novo, só o cansaço e ceticismo do velho. Meus pulmões já não cabem mais tanto oxigênio, eles preferem a fumaça do meu bom cigarro de palha, já não preciso respirar tanto. Já não corro mais, exercícios não cabem nas minhas futilidades diárias. Vou ao bar no meu carro e tomo boas doses de whisky  e copos de cerveja entre longas conversas e baforadas de charuto, mas a disposição não é mais a mesma e cedo estou em casa de novo. Sento-me para ler, ponho um jazz ao fundo e acordo com os pássaros cantando e uma luz invadindo minhas pupilas, o livro caído no chão e meu corpo doido afundado na poltrona. Me preparo uma caneca de um forte café e vou para varanda ainda ouvindo o jazz com uma intensidade cada vez maior, o trompete vai dominando o solo enquanto o baixo segura toda a harmonia no fundo.Vejo garotões passando aos berros comentando sobre o show de ontem a noite mas eles passam rápido de mais para que meu ouvido capte mais detalhes. Nenhum som me parece mais tão bonito, tudo me parece meio ácido e nada mais é novo, tudo são cópias diluídas de algo do passado, eu sou uma cópia de velhos do passado, com o mesmo olhar ranzinza e experiente sobrevoando um mundo no qual não mais me encaixo, mas os pássaros continuam bonitos, seus pios continuam a me agradar como sempre, suas belas asas abrindo e fechando. Me pergunto se depois de velho aprendi a voar, dou um ultimo gole no café,  um trago no cigarro, me direciono para o batente e sem refletir muito ou sem querer refletir muito pulo com o jaz em seu ápice ao fundo, para descobrir que depois de tantos anos nem um simples vôo eu aprendi a dar.

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