sábado, 30 de abril de 2011

Envelhecer


O cheiro cru e impregnante de coisas soltas na mochila se fixam nas páginas agora manchadas de um enredo cuspido em A5 encapado que guardo comigo para momentos ociosos. Todo o cheiro acumulado desde pontas de lápis a pedaços de papel reciclado os quais antes nem eram percebidos se juntam nas páginas agregando a minha leitura o odor do eu. Sinto muitas vezes algo que penso ser meu cheiro mas já misturado a muitas outras coisas não posso estar mais certo. Passo então a me colocar na história, a entrar naquele enredo de linguagem pretensiosa e conclusão mirabolante, mergulho página por página num espaço que flutua entre o livro e a realidade olfativa que este me proporciona. Junto histórias imaginativas a esta que leio e me ponho a imaginar fatos alterados de ambas realidades. E chego ao fim não do livro mas de mais uma história minha contada por outro, como sempre exagerada, com fatos alterados e personagens extremos e desconhecidos. Deixo o livro de lado, empresto-o a muitos, e longos anos depois, agarro-o em minhas mãos para ver que as palavras ficaram mas que o cheiro mudou, a história mudou, eu mudei, ponho me a ler o livro mas meu olfato falho não identifica nada além do forte cheiro de mofo mas minha cabeça sabe que não é o mofo mas sim o acumulo de eus e outros nas páginas amareladas de um livro qualquer.

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